Existe música ultrapassada?
Em um milênio a história da música transitou entre o abandono e a renovação das práticas musicais. Desde a criação da partitura, o aporte existencial do Renascimento, o desenvolvimento estético dos compositores foi imenso, e se até J. S. Bach em sua época sofreu com o estigma de realizar práticas ultrapassadas, no caso a polifonia, porque não haveria esse pensamento vigente na contemporaneidade?
A partir desse parágrafo tudo que escrever será bastante pessoal. Trata-se de uma opinião. Sou compositor, escritor, arranjador, educador, e infelizmente não é possível desenvolver a questão do leitor sem uma perspectiva individual.
Bach, por exemplo, está entre os compositores que mais admiro. A substituição da polifonia pela homofonia impactou a prática musical e a forma em que apreciamos a música, e ao meu gosto o equilíbrio estético entre as práticas favorece a criação artística. Em meus trabalhos procuro utilizar continuamente o equilíbrio entre homofonia, polifonia e monofonia. Trata-se então de equilíbrio e não ser ou não ser uma prática considerada ultrapassada.
A ânsia para renovação se confunde em diversas oportunidades com a necessidade de tratar o que lhe é alicerce como algo que deve ser esquecido. Ocorre que a total ruptura possui muito mais malefícios do que benefícios porque somos na realidade um contínuo de desenvolvimento.
Pude em minha obra conversar entre notas pautadas com diversos compositores e estilos, e permanecerei alegremente entre Bach, Villa-Lobos, Jobim, Debussy, Stravinsky, e tantos outros que admiro, e tantas práticas do contraponto, ao contracanto, a teoria das camadas, eu gosto tanto das tríades quanto das tétrades, tanto dos modos e escalas quanto das séries. O contexto enfim é gerir o conhecimento, reproduzir quanto preciso como quando em uma trilha, respeitando todas as tradições, e fazendo o que mais pretendemos: arte!
Então ultrapassado é achar que alguma música é ultrapassada. Vamos lá!
Obrigado leitor pela sugestão de pauta! Acima uma obra minha criada a partir de uma obra medieval? Já adivirto que está repleta de influências posteriores e muito ao período.
#VemProSouzaLima
