Desafinar! A afinação é tão importante assim?

Cursos Técnicos

Leigos e profissionais se queixam de variações indesejadas na afinação. Mas afinal: afinação é tão importante assim?

Impossível falar de afinação sem ingressar na ótica do temperamento ocidental – que divide uma oitava em doze vibrações proporcionais em semitons rigorosamente iguais.

Ser afinado é atingir perfeitamente cada altura emitida.

Desafinar então, é desviar acima ou abaixo de uma altura objetivo, com um instrumento ou voz. E esse desviar, ou simplesmente não atingir propositadamente, ou até mesmo passar da nota, pode ser uma estratégia interpretativa ou prática usual de determinados instrumentos musicais.

Música fonográfica

Principalmente para a música fonográfica – àquela de conotação popular, esse desviar da afinação constitui trejeitos específicos de um artista principalmente nas finalizações de frase.

Luiz Melodia falecido no ano de 2017, abusava de um relaxamento nos fins de frase, raspando apenas as alturas, uma marca, algo valorizado como prática individual artística.

A intérprete brasileira Nana Caymmi indiscutivelmente passa por algumas alturas sem atingi-las em cheio, e isso compõe uma ideia interpretativa muito peculiar. Para mim muitíssimo bonita.

Mover a vibração de uma nota gerando inconstância na rigorosidade do temperamento é uma prática prevista da música escrita. O vibrato erudito tem características claras, trafegar pelas vibrações é algo impensável para a música erudita, mas utilizar nas finalizações de frase ou momentos que se propõe grifar é algo que representa determinadas estéticas.

Outros instrumentos e afinação

E o que falar da guitarra? O Bend, técnica característica interpretativa da guitarra e até mesmo de alguns instrumentos de sopro, trabalha justamente com uma variação da afinação.

Desafinar então não é tão prejudicial assim?

Evidente que o uso excessivo conota uma sensação desagradável. O uso consciente das estratégias da desafinação é benéfico ao fazer artístico. O inconsciente conota despreparo.

Ao cantor, perdido sobre uma estrutura musical proposta de acompanhamento, que trafega todo tempo como se cantasse em outro conjunto de notas, é outra questão. Ao que chamam de desafinação, na verdade, pode ser falta de musicalidade. Claro, que essa circunstância pode ocorrer também por questões técnicas. Um retorno ruim? Como no episódio ocorrido com a cantora Adelle em uma premiação. O talento de Adelle é incontestável.

Hoje com toda tecnologia disponível, ouvindo os fonogramas, vídeos, shows, principalmente dos artistas mais populares, do centro do mercado fonográfico, é impossível identificar o bom ou o mau cantor (a) por questões de afinação.

Você sabia?

Há equipamentos e programas que corrigem em tempo real as variações de afinação. É só estipular vibrações “corretas”.

É… Seu artista favorito pode ser uma mentira se você considerar a afinação primordial.

Eu fico com o que é humano. E você?

Artigo publicado em 1 de janeiro de 2018, revisado e ampliado em 28 de março de 2019.

 

Pós Graduação
Previous articleCanto lírico ou Canto popular?
Next articlePara que serve uma trilha sonora?
João Marcondes é compositor, arranjador, produtor musical e um dos maiores educadores musicais do Brasil. Possui mais de cinquenta livros lançados, metodologias completas, e cursos aprovados no MEC e Secretaria da Educação. É gestor educacional e empreendedor. Tem mais de mil artigos publicados falando sobre música. E aqui, no Blog Souza Lima mais de dez milhões de leituras em seus textos.